quarta-feira, 3 de novembro de 2010

PdC - Novembro 2010




Neste número de Perspectivas de Comunhão, desejamos aprofundar nossa reflexão sobre a encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in Veritate. Através da apresentação de alguns trechos deste documento, desejamos destacar a importância do verdadeiro conceito de pessoa humana, fundamental para o verdadeiro desenvolvimento.

O Papa afirma que “hoje a questão social tornou-se radicalmente antropológica, enquanto toca o próprio modo não só de conceber, mas também de manipular a vida” (CV n. 75).

O conceito de pessoa

A origem etimológica da palavra pessoa vem do latim, de resonare, que significa “ressoar”. O termo pessoa inicialmente indicava a máscara teatral utilizada pelos atores, seja para se caracterizar, seja para amplificar a própria voz. A cada máscara correspondia uma voz diferente e, portanto, as vozes não se confundiam entre si.
O conceito de pessoa não está presente no Novo Testamento, mas coloca-se no cenário geral da Aliança, onde o homem é chamado a ser o partner de Deus. Em contato com o mundo grego, esse conceito sofreu a influência de uma visão individualista. O desenvolvimento cristão deste conceito chave se deu principalmente no contexto das controvérsias trinitário-cristológicas, que estavam na origem dos sete primeiros concílios ecumênicos. Tratava-se principalmente de se defender das acusações de politeísmo e de frear as várias heresias cristológicas, que tendiam a negar ora a humanidade, ora a divindade de Cristo. Deste modo, a Igreja afirma que Deus é uma única natureza em três Pessoas. Desta tese emerge o conceito de pessoa como relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo no interior de Deus e, portanto, relação com os homens.

Acento sobre a relação

A reflexão posterior ao Concílio de Nicéia coloca o acento sobre a “relação”, pela qual a substância
divina (as três Pessoas da Trindade) existe na relação recíproca. Segundo Santo Agostinho, no microcosmo humano encontram-se analogicamente os traços das três Pessoas divinas. Assim, por analogia entre o Criador e a criatura, o termo pessoa é aplicável ao próprio homem. Deste modo podemos entender mais facilmente a afirmação dessa encíclica de que “Deus é o garante do verdadeiro desenvolvimento do homem, já que, tendo-o criado à sua imagem, fundamenta de igual forma sua dignidade transcendente e alimenta seu anseio constitutivo de ‘ser mais’” (CV n. 29). Por isso mesmo, “o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade: com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida econômico-social” (CV n. 25).

Somos se amamos

Como as Pessoas da Trindade, também nós, seres humanos, somos chamados a sair de nós mesmos para ir ao encontro do outro. Deste modo, quando não somos (fechados em nós mesmos) então somos, na relação de amor.

Padre Antonio Capelesso - Editorial Perspectivas de Comunhão, Ano XIX, Novembro de 2010, nr. 10.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PdC - Outubro de 2010




Ao recordarmos que outubro é o mês missionário, logo nos vem à mente o Documento de Aparecida (DAp), que conclama todos os membros da Igreja a partilhar a sua experiência do encontro pessoal com o Senhor, de modo a poder doar a alegria da própria fé que ilumina, com uma nova luz , todos os acontecimentos de nossa vida.
Através deste encontro com o Senhor, descobrimos que somos constantemente acompanhados e amados por Ele, de modo que a certeza de seu amor nos enche de esperança. Este dom espiritual de nosso encontro com Deus ilumina nosso rosto com uma luz muito especial, presente também nos momentos de dor, como aconteceu na vida da jovem Chiara Luce Badano, beatificada no dia 25 de setembro deste ano. Neste sentido, quando nos perguntarem pela razão de nossa paz interior e serenidade, não podemos deixar de transmitir nosso testemunho e a fé que nos anima.

Abertos a todos

Portanto, ninguém pode passar ao nosso lado sem que o olhemos nos olhos, o acolhamos em nosso coração, especialmente se for alguém que ainda não descobriu o sentido de sua vida. Vivemos sim, não apenas uma época de mudanças, mas uma mudança de época, momento em que tantos valores cristãos são questionados, momento em que, sobretudo, os jovens encontram-se facilmente desorientados.
Há poucos dias pudemos acompanhar a viagem do Papa Bento XVI ao Reino Unido, não em busca de aplausos, mas ancorado na certeza da sua missão que é a de confirmar os irmãos no caminho da fé verdadeira. Nós também queremos fazer eco à sua voz e dizer, mais com a vida do que com as palavras que em Cristo descobrimos o verdadeiro significado que plenifica a nossa vida.

A comunhão para a missão

Neste número de Perspectivas de Comunhão teremos ocasião de aprofundar a dimensão missionária de nossa vida cristã, a começar pelo pensamento do Papa que nos dirá que a construção da comunhão eclesial é a chave da missão. Uma carta da fundadora dos Focolares, Chiara Lubich, dirigida à comunidade de Roma no final de junho de 1949 nos fará entender que a presença espiritual de Jesus em meio a seus discípulos (cf. Mt 18,20), é o segredo da autêntica evangelização e transformação social.
Através de um artigo da teóloga Sandra Ferreira Ribeiro, que participou como perita da V Conferência do episcopado Latino Americano, aprofundaremos a realidade da evangelização no Documento de Aparecida.
Para concluir esse número, apresentaremos alguns tópicos deste documento sobre a realidade da missão na vida da Igreja.

Padre Antonio Capelesso

Editorial Perspectivas de Comunhão, outubro de 2010 - Ano XIX nr. 09.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010




A Palavra de Deus é vida de nossa vida. Estamos vivendo o mês de setembro, especialmente dedicado à Palavra de Deus. Em Maria a Palavra de Deus se fez carne. Na medida em que revivermos as suas atitudes de escuta, acolhimento e plena disponibilidade, o Verbo de Deus é gerado em nossos corações, de modo que também nos tornaremos uma espécie de sacrário que leva a presença de Jesus aos irmãos.

Luz para o caminho

Partilho a importância que teve em minha vida, a descoberta da possibilidade de colocar em prática a Palavra de Deus. Em 1969 encontrava-me no primeiro ano de filosofia e vivíamos difíceis momentos após o Concílio Vaticano II. Provenho de uma família humilde, mas com fortes convicções religiosas. Depois de várias tentativas o reitor do Seminário nos comunicou que, embora o desejasse, era impossível fazer do Seminário uma verdadeira comunidade cristã.
Diante desta afirmação eu fiquei me perguntado que caminho deveria seguir, se o da fé simples que meus pais me ensinaram ou aquele da grande cultura cristã, mas que questionava a possibilidade da vivência do Evangelho, pois foi assim que eu entendi a afirmação de nosso reitor. Neste contexto eu esperava um sinal de Deus e Ele se manifestou com prontidão. Fui convidado a participar de uma jornada promovida por um Movimento eclesial que eu não conhecia, o dos focolares. Durante esse encontro várias pessoas partilharam suas experiências bem concretas da vivência da Palavra de Deus. No final do dia, como dizemos, “caiu a ficha”. Foi então que eu disse a mim mesmo: eis aqui o sinal de Deus que eu esperava.
Todas as experiências partilhadas me demonstraram que a Palavra de Deus, realmente, é viva e eficaz de modo que ao ser praticada, gera uma nova vida. A partir deste momento esta luz da Paslavra sempre me acompanha.

Acolher, meditar, praticar

Com São Jerônimo, que celebramos neste mês, desejamos nos nutrir adequadamente da Sagrada Escritura, acolhendo, meditando e praticando tudo o que ela nos diz, para não sermos cristãos subdesenvolvidos. Como nos diz o Papa Bernto XVI em suas catequeses da quarta-feira, desejamos amar a Palavra de Deus, seguindo o exemplo desde grande santo que celebraremos no próximo dia 30.
Não podemos deixar de recordar neste número a experiência de Chiara Lubich e companheiras, vivida num momento em que os fiéis leigos tinham pouco acesso à Bíblia. Correndo para os refúgios antiaéros na cidade de Trento, para proteger-se dos bombardeios durante a segunda guerra mundial, levavam o texto dos Evangelhos. Abrindo-os à luz de uma vela realizaram descobertas extraordinárias sob o impulso de um novo carisma doado à Igreja pelo Espírito Santo. A vivência de uma frase completa da Escritura por mês e a partilha de suas experiências fez nascer uma verdadeira comunidade cristã.
Gerard Rosée, famoso biblista, nos ajudará através de um seu artigo que reproduzimos, a penetrar na importância da Palavra de Deus na vida da Igreja. Do mesmo modo nos ajudará a entender a centralidade da Palavra de Deus na vida cristã, sobretudo, após o Concílio Vaticano II.

Um coração novo

Os profetas Jeremias e Ezequial anunciaram a realização de uma nova aliança entre Deus e seu povo, momento de grande renovação interior pela presença do próprio Espírito de Deus no coração das pessoas. Neste sentido dejamos nos dispor a ouvir a voz do Espírito Santo em nossos corações, para entender o que Deus nos fala hoje, através de sua Palavra.


Padre Antonio Capelesso

Editorial da Revista Pespectivas de Comunhão, Ano XIX, setembro de 2010, nr. 08.

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sábado, 31 de julho de 2010

PdC Agosto 2010



Estamos vivendo um período de acelerada evolução, de modo que a compreensão da sociedade que se vai compondo, é um verdadeiro desafio. Diante de tanto relativismo é necessário redescobrir aqueles valores fundamentais, que no passado vivificaram a convivência social.
Esses valores fundamentais dependem também de uma verdadeira imagem de Deus. O Papa Bento XVI, depois de afirmar que Deus é Amor (cf. 1 Jo 4, 16), diz que essas palavras exprimem com particular clareza o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus, e também a consequente imagem do homem e de seu caminho. (Deus caritas est, 1).
Jesus, sobretudo em seu evento pascal de paixão até ao aniquilamento do abandono e da morte, revela-nos Deus como Amor. Na Trindade, o Pai gera o Filho por amor, “perde-se” Nele, vive Nele, faz-se de certo modo “não-ser” por amor e, justamente por isso Ele é, é Pai. O Filho, enquanto eco do Pai, retorna por amor ao Pai, “perde-se” Nele, vive Nele, faz-se de certo modo “não-ser” por amor e, justamente, fazendo assim é, é Filho; o Espírito Santo, que é o recíproco amor entre Pai e Filho, seu vínculo de unidade, faz-se, Ele também, de certo modo, “não-ser” por amor e justamente por isso é, é o Espírito Santo.
O homem foi criado à imagem de Deus que é amor. Portanto, se nós percorrermos a estrada que nos faz sair de nós mesmos para doar-nos aos outros, então somos, porque nós somos se amamos, se vivermos pelos outros. Não fomos criados como indivíduos que antes se realizam e depois se doam, mas, desde a eternidade, fomos pensados por Deus na relação com os outros. Deste modo, podemos dizer que a relação possui uma prioridade ontológica: a nossa essência como pessoa, não se esgota no nosso ser, mas é definida pelas relações com Deus e com os outros.
Então, estabelecer relacionamentos autênticos com quem encontramos não é somente um gesto de cortesia, este é o nosso ser, a nossa vida. Portanto, eu irei realizar-me estando em relação com os outros: doando e também recebendo. De fato, experimentamos isto a cada dia e psicólogos e pedagogos ressaltam que é o outro que permite à nossa identidade afirmar-se e desenvolver-se. É no vulto do outro que eu me encontro.

A Igreja também é comunhão. Como sabemos, a “eclesiologia de comunhão”, como vocação da Igreja, representa “a idéia central dos documentos do Concílio Vaticano II” (Exortação Apostólica Christifidelis Laici, n. 19). A Igreja tem como vocação, ser “sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). A unidade da Igreja não é uniformidade, mas como na Trindade, seu modelo e forma, é “integração orgânica das legítimas diversidades; é a realidade de muitos membros unidos num só corpo, o único Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,12)” (Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, n. 46).
Duas coisas constituem o fundamento da centralidade da comunhão na Igreja. A primeira brota da essência da mensagem evangélica: a caridade é a essência da Igreja (cf. 1Cor 13,2). A segunda é que, se a caridade tem esta centralidade, não o é por uma opção convencional, mas porque o Amor constitui a própria vida de Deus (cf. l Jo 4,8.16), amor este que faz de Deus não um solitário, mas “família”, uni-trinitária. A Igreja encontra na Trindade as suas raízes, o seu “lugar”, o seu dever ser.


Padre Antonio Capelesso [Editorial Perspectivas de Comunhão - Ano XIX - Agosto de 2010 - n. 07]


segunda-feira, 28 de junho de 2010

PdC Julho 2010

O Evento “Sacerdotes Hoje”, realizado na Sala Paulo VI, no Vaticano, no dia 9 de junho deste ano, no contexto do encerramento do Ano Sacerdotal, foi provomido por sacerdotes ligados a vários Movimentos Eclesiais, entre eles o Movimento dos Focolares, de Schönstat, da Renovação Carismática Católica e outros. Cerca de quatro mil sacerdotes e grande número de leigos lotaram o palco do evento que foi transmitido pela internet e por várias redes de televisão.

Ao longo deste Ano Sacerdotal, proclamado pelo Papa Bento XVI e celebrado por ocasião dos 150 anos da morte do Cura D’Ars, Perspectivas de Comunhão procurou fazer chegar a todos os leitores um conteúdo em plena sintonia com esse acontecimento eclesial. Com esse número desejamos salientar os momentos principais do encontro “Sacerdotes Hoje”, a começar por um pensamento espiritual de Chiara Lubich, fundadora dos Focolares apresentado neste mesmo local em 1982.

Representando o Santo Padre, o Card. Tarcísio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, transmitindo a todos a saudação de Bento XVI, destacou que “a nossa vida se conjuga no plural. O sacerdote é o homem da comunhão, e gosto de enfatizar que respirar a comunhão é um elemento fundamental para a saúde do corpo da Igreja”.

Além de ser promovido por sacerdotes pertencentes a vários Movimentos eclesiais, em plena sintonia com a Igreja e com as demais iniciativas para a conclusão do Ano Sacerdotal, o testemunho que transpareceu neste encontro foi o de uma verdadeira comunhão. Com muita coragem foram abordados os grandes desafios enfrentados pelos sacerdotes, destacando como a comunhão presbiteral e a unidade com toda a comunidade eclesial são decisivas para encontrar a harmonia interior e a luz para o caminho a ser percorrido.

Neste número ainda tanscrevemos algumas das respostas que o Papa Bento XVI concedeu aos sacerdotes, representantes dos cinco continentes que, no dia 10 de junho deste ano, o interrogaram sobre como proceder para atender a um número sempre maior de pessoas e comunidades e ainda como suprir à necessidade de uma formação sacerdotal permanente e de qualidade.

Comovedoras as inúmeras experiências, como a do sacerdote que, com a ajuda da comunidade, conseguiu superar o alcoolismo; e também o impressionante testemunho de três sacerdotes sobreviventes ao massacre ocorrido no Seminário Menor de Buta, no Burundi, em 1997, quando ainda se enontravam no período de formação.

Padre Antonio Capelesso [Editorial "Perspectivas de Comunhão" - Ano XIX n. 6 - Junlo de 2010]

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terça-feira, 1 de junho de 2010

PdC Junho 2010



Neste mês de junho, no qual celebramos a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, e concluímos o Ano Sacerdotal, desejamos fixar mais atentamente nosso olhar no coração de nosso Deus, manifestado no mistério do abandono de Jesus, na cruz.

Contemplando toda a vida de Jesus, percebemos que Ele está constantemente voltado para o Pai, revelando, assim, aquela dinâmica de amor que passa entre as Pessoas da Santíssima Trindade.

Como Ele próprio manifestou, mais que o alimento, seu desejo é realizar a vontade do Pai (cf. Jo 4,31). Mesmo na agonia vivida no horto das oliveiras, em que Ele chega a suar sangue, se entrega à vontade do Pai e à realização de seu desígnio de amor sobre toda a humanidade com a qual se uniu para sempre.

Contudo, esse mistério do amor de nosso Deus plenamente revelado em Cristo Jesus, só se torna plenamente manifesto, quando na cruz, Ele prova a separação de Deus e grita: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46). Mesmo nessa situação extrema, Jesus confia e se abandona nas mãos do Pai, manifestando a plenitude de seu amor para conosco. É ali que entendemos aquela sua afirmação: “Como o Pai me amou, assim eu vos amei” (Jo 15,9), que neste Ano Sacerdotal procuramos aprofundar através da publicação, pela Editora Cidade Nova, de quatro volumes de pensamentos dos padres da Igreja, de fundadores de Comunidades Religiosas e Movimentos, bem como de pensamentos de grandes teólogos e dos últimos papas.

Por ocasião dos festejos do encerramento do Ano Sacerdotal, que acontecerá em Roma, no dia 11 de junho deste ano, sacerdotes ligados a alguns Movimentos Eclesiais como Schönstat, Focolares e Renovação Carismática Católica, desejam apresentar a beleza da vocação presbiteral através de inúmeros testemunhos. Esse evento acontecerá na Sala Paulo VI, no Vaticano, na tarde do dia 9 de junho, com transmissão simultânea, no Brasil, entre outras redes, pela Canção Nova a partir das onze horas da manhã, horário de Brasília, de modo que todos podemos participar.

Neste mês somos particularmente convidados pela meditação do Papa Bento XVI, que encontraremos a seguir, a manter nosso olhar fixo no lado transpassado de Cristo, para compreender sempre mais que Deus é amor.

Padre Antonio Capelesso - Editorial "Perspectivas de Comunhão" - Ano XIX n. 5 - Junho de 2010

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

PdC Maio 2010




O Concílio Vaticano II nos fala da comum dignidade do povo de Deus, ao recordar que todos os fieis são membros de um único corpo (cf. Rom 12,4-5). “Comum a dignidade dos membros pela regeneração em Cristo (...). Não há, pois, em Cristo e na Igreja, nenhuma desigualdade em vista de raça ou nação, condição social ou sexo (...). E ainda que alguns por vontade de Cristo sejam constituídos mestres, dispensadores dos mistérios e pastores em benefício dos demais, reina, contudo entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fieis na edificação do Corpo de Cristo” (LG, 32).


Este texto do Concílio reflete uma eclesiologia que tem suas raízes da vida da Santíssima Trindade. Portanto, trata-se de eclesiologia de comunhão, de modo que o relacionamento entre todos os membros da comunidade cristã precisa estar alicerçado no amor recíproco, na consciência de todos serem irmãos, filhos do mesmo Pai e criados como dom para os demais.


É neste contexto que se entende a afirmação do Papa Paulo VI de que vivemos o momento em que mais que a santidade de um indivíduo temos necessidade de uma santidade de povo, que revela a presença do Santo no meio de nós. As relações do Pai e do Filho, na Trindade, são de dom e de acolhida recíprocas e o vínculo desta comunhão é o Espírito Santo. É deste modo que a Igreja é chamada a revelar a beleza da diversidade, caracterizada pelas figuras de Maria e de Pedro, na mais perfeita comunhão e distinção.


O Documento de Aparecida afirma que “a Igreja cresce, não por proselitismo, mas por atração” (cf. n. 159). Deste modo, o primeiro e principal anúncio a que somos chamados, em nosso tempo, é o mandato missionário que encontramos no Evangelho de João: “Nisso conhecerão todos que os sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” ( Jo 13,35).


Ao afirmar que não deveríamos chamar a ninguém de Mestre, e de tratar-nos todos como irmãos (cf. Mt 23,8), certamente, Jesus desejava destacar essa colaboração recíproca entre todas as vocações presentes em nossa comunidade cristã, especialmente entre sacerdotes e leigos, guiados por Ele mesmo, presente no meio de nós.


Neste sentido, também os sacerdotes que tem a missão específica de ensinar, precisam se exercitar constantemente na prática da escuta atenta e profunda dos leigos como, seguramente, fez o Apóstolo João diante de Maria, a mãe de Jesus, que ele acolheu em sua casa.


Na carta encíclica Mulieris dignitatem o Papa João Paulo II cita von Balthasar dizendo que Maria é “Rainha dos Apóstolos”, mesmo sem reivindicar poderes apostólicos para si. Ela possui algo diferente e algo a mais.


Com este número de Perspectivas de Comunhão, em plena sintonia com o Ano Sacerdotal que estamos vivendo, desejamos aprofundar nossa reflexão sobre o sacerdócio ministerial, mas na profunda comunhão com o sacerdócio batismal, que tem na Virgem Maria o seu modelo mais eminente.

Padre Antonio Capelesso - Editorial "Perspectivas de Comunhão" - Ano XIX n. 4 - Maio de 2010

PdC Abril 2010



Vivemos um momento em que a humanidade, mais que nunca anseia pela comunhão, pela unidade de todo o gênero humano. Por isso mesmo, as divi-sões aparecem mais claramente como chagas a serem curadas. Diante deste anseio coletivo todos nos senti-mos interpelados a fazer algo para sanar as feridas no relacionamento entre casais, entre pais e filhos, para aproximar e harmonizar a relação entre pastorais e mo-vimentos e a inteira vida eclesial e social.
Na busca da cura dos corações, nosso pensa-mento se volta para o amor de Cristo que, com tanta ternura se aproximou de todas as pessoas, como médi-co dos corpos e das almas. Sabendo de nossas necessi-dades, Ele prometeu permanecer sempre conosco.
Podemos encontrá-Lo em tantos lugares. Hoje desejamos recordar a sua presença na Eucaristia. E como não recordar o carinho de nossas mães que se-gurando nossa pequena mão nos conduziram até perto do sacrário, nos fazendo entender que, aquela luzinha ao lado, indicava a presença do Senhor.
É inconcebível
“Vou à Igreja ao amanhecer, e ali te encontro. Entro por acaso, ou por costume, ou por respeito, e ali te encontro. E cada vez, tu me dizes uma palavra, retii cas um sentimento, vais compondo com notas di-versas, um canto único, que o meu coração sabe de cor, e me repete uma palavra só: eterno amor” (Chiara Lubich).
Contudo, para que a Eucaristia produza tudo o que Jesus deseja em nós e na comunidade, são necessá-rias algumas condições, à semelhança da semente que não é lançada ao solo senão depois de cultivado, aduba-do, contando com a umidade e a luz do sol necessárias.
Neste número apresentamos a rel exão de Chiara Lubich que, aprofundando o pensamento dos padres da Igreja nos apresenta quais são essas condições para que a Eucaristia realize em nós o milagre da vida e da plena comunhão com Deus e com os irmãos.Em sintonia com o XVI Congresso Eucarísti-co nacional que acontecerá em Brasília, de 13 a 16 de maio próximo, apresentamos neste número de Perspec-tivas de Comunhão vários artigos sobre a Eucaristia, entre os quais o de Dom Luciano Mendes de Almeida por ocasião do XV Congresso Eucarístico nacional que aconteceu em Florianópolis, Santa Catarina.

Como Maria viveu a Eucaristia?
Todos nós sabemos que Maria foi o primeiro sacrário, ao levar em seu seio o Redentor da humani-dade que, no encontro com a prima Izabel já sanfi cou João Batista que ela aguardava.
Neste sentido, PdC traz novamente a refl exão de Hubertus Blaumeiser apresentada por ocasião do Congresso Mariano promovido pelo Movimento dos focolares em Castelgandolfo, Roma.



Padre Antonio Capelesso - Editorial "Perspectivas de Comunhão" - Ano XIX - n. 3 - Abril de 2010.



PdC Março de 2010




Neste ano o Movimento dos focolares está aprofundando a realidade de “Deus Amor”, o primeiro ponto desta espiritualidade. Em sintonia com com essa temática iniciamos este número de Perspectivas de Comunhão com uma refexão de Chiara Lubich sobre o “popo”, ou seja, sobre o modo característico de encarnar concretamente a espiritualidade da unidade.


A palavra popo, no dialeto trentino signifca criança. Trata-se do modo característico de as pessoas viverem a realidade da criança evangélica segundo a espiritualidade dos focolares que, por acreditarem plenamente no amor de Deus, a Ele se confam incondicionalmente. A descoberta pessoal do amor de Deus nos leva a escolhê-Lo como tudo de nossa vida.


Essa escolha, segundo Pasquale Foresi, necessita ser renovada e purifcada constantemente. Neste sentido ele nos apresenta a necessidade de uma segunda e mais profunda escolha de Deus.


Michel Vandeleene nos mostra, através de seu artigo, que o relacionamento interpessoal, ao contrário do que era preconizado pelas espiritualidades predominantemente pessoais individuais, não é obstáculo, mas caminho para a comunhão com Deus. Concluímos este número com o testemunho de dois seminaristas que se empenham por encarnar a espiritualidade da unidade na vida concreta do seminário em que vivem.
Padre Antonio Capelesso - Editorial - "Perspectivas de Comunhão" - Ano XIX n.02 - Março de 2010.

Revista Perspectivas de Comunhão



Como sabemos, o Concílio Vaticano II assinalou a passagem de uma espiritualidade eminentemente pessoal-individual para uma espiritualidade comunitária. Durante séculos, também na formação presbiteral, como em toda a vida espiritual, priorizou-se apenas a relação vertical: “eu e meu relacionamento com Deus”, sem acentuar suficientemente a dimensão comunitária da vida cristã. Contudo, para que esta mudança se concretize em nossa vida cristã, gerando um novo tipo de relacionamentos entre nós, em que o irmão não é visto como um empecilho, mas como caminho para a comunhão com Deus, é necessário percorrer uma longa estrada.
É importante destacar com alegria, que o mesmo Espírito de Deus que falou pelo Concílio doou à sua Igreja novos carismas, nos quais já podemos encontrar uma concretização da espiritualidade de comunhão que responde às necessidades de nosso tempo. A Igreja é chamada a ser entre os homens o sinal e a concretização da unidade e dos relacionamentos vividos no seio da Santíssima Trindade. Nesta Igreja não se entende mais o padre senão como o homem do diálogo e a pessoa capaz de relacionamentos autênticos, que geram a vida de família e a autêntica comunhão. Além disso, o Magistério da Igreja a' rma que o ministério presbiteral só tem sentido como obra comunitária, como expressão de autêntica vida de presbitério, em plena comunhão com o respectivo bispo.
Os artigos que apresentaremos a seguir desejam contribuir para que nossos relacionamentos interpessoais, em conformidade com nossa realidade ontológica de imagem e semelhança de Deus, nos ajudem a fazer da Igreja a “Casa e a Escola de comunhão” (cf. NMI 43).



Padre Antonio Capelesso - Editorial Revista "Perspectivas de Comunhão" JanFev - 2010.