segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PdC - Dezembro de 2011




Editorial

Antonio Capelesso

Como já tivemos ocasião de refletir em números anteriores, a Igreja está fortemente convencida da necessidade de uma nova evangelização. A recente criação do Pontifício Conselho para a promoção da nova evangelização e a convocação do próximo Sínodo dos Bispos para aprofundar “a nova evangelização para a transmissão da fé cristã” o atestam claramente.

Ousar novos caminhos
Os Lineamenta para o próximo Sínodo sublinham a «coragem de ousar novos caminhos, diante das novas condições em que vivemos» (n. 5), além da necessidade de um «estilo ousado» e de «saber ler e interpretar os novos cenários que se criaram dentro da história humana, nessas últimas décadas, para entrar neles e transformá-los em lugares de testemunho e anúncio do Evangelho» (n. 6), e a necessidade de mostrar que «a perspectiva cristã ilumina de modo inédito os grandes problemas da história» (n. 7).

O Documento de Aparecida afirma que «a Igreja cresce não por proselitismo, mas por atração» (DAp, n. 159). Diante disto nos perguntamos qual a razão de muitas comunidades cristãs hoje não estarem exercendo essa atração. Na verdade, percebemos que uma porção sempre maior de pessoas não consegue mais crer em certas imagens de Deus que apresentamos e manifesta seu desagrado para com a Igreja. Diante disto, precisamos nos questionar sobre o que há em nós mesmos que não os atrai.

Atrair para Cristo
O mesmo Documento de Aparecida nos ilumina afirmando que «a Igreja “atrai” quando vive em comunhão, uma vez que os discípulos de Jesus serão reconhecidos se se amarem reciprocamente como Ele nos amou (cf. Rm 12,4-13; Jo 13,34».
Em plena sintonia com a eclesiologia de comunhão do Concílio Vaticano II, hoje se acentua mais o mandato missionário contido no Evangelho de João, no qual Jesus nos assegurou que nos reconhecerão como seus discípulos, se nos amarmos reciprocamente (cf. Jo 13,35). Além disto, Jesus pediu ao Pai de fazer-nos partícipes da mesma comunhão que constitui a vida de Deus «a fim de que o mundo creia» (Jo 17, 21.23).

O Verbo, Maria e o Espírito
Na plenitude dos tempos o Verbo de Deus se fez carne, pelo sim de Maria e pela ação do Espírito Santo. Neste novo ano teremos ocasião de aprofundar a importância da Palavra de Deus em nossa vida, a partir da experiência de Chiara Lubich e suas primeiras companheiras. Deveremos também aprofundar que fomos criados em Cristo e que somente nos “perdendo” nele, por amor, realizaremos plenamente o desígnio de Deus sobre nós.
O artigo de Giuseppe Petrocchi, apresentado neste número, nos fará entender que também hoje o Verbo deve fazer-se “carne” e que para isso Ele necessita do sim de Maria, prolongado pela Igreja e da ação do Espírito Santo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PdC-Novembro 2011




Editorial


Antonio Capelesso

A vida da Igreja no mundo de hoje é repleta de desafios. No entanto, se a contemplarmos com o olhar de Deus que é Amor, perceberemos que, em cada um destes desafios está contido um chamado e uma nova oportunidade: o convite a uma grande renovação. Neste número de Perspectivas de Comunhão publicaremos algumas reflexões sobre a “nova evangelização”, apresentadas por ocasião do Congresso Sacerdotal realizado de 17 a 20 de outubro de 2011, na Mariápolis Ginetta.

A secularização
Vivemos numa época de profunda secularização, em que se perdeu a capacidade de ouvir e compreender as palavras do Evangelho como uma mensagem viva e revigorante. A secularização levou-nos a desenvolver uma mentalidade na qual Deus, é posto de parte da existência e da consciência humana.
Hoje, os meios de comunicação social oferecem enormes possibilidades e representam um dos grandes desafios para a Igreja. Assiste-se à perda do valor objetivo da experiência da reflexão e do pensamento, reduzida em muitos casos, a puro lugar de confirmação do próprio sentir.

Novos ídolos
Vivemos num período histórico que ainda não se recuperou da estupefação suscitada pelas constantes metas que a investigação científica e tecnológica tem sido capaz de superar.
Todos nós podemos sentir na vida diária os benefícios trazidos por estes progressos. No entanto, a ciência e a tecnologia correm o risco de se tornarem os novos ídolos do presente.

Crise de importância
Com o avanço da secularização, as Igrejas cristãs experimentam uma crescente crise de importância. Para um número sempre maior de pessoas Deus e a Igreja são simplesmente insignificantes. Diante desta situação, há necessidade de um empenho totalmente novo na transmissão da fé.

Sinais de Renovação
O Concílio Vaticano II que recolheu o influxo positivo de muitos movimentos de renovação apresentou uma nova imagem da Igreja, não mais como sociedade e sim como comunidade, como sacramento de unidade com os irmãos e com Deus.
Bento XVI, desde o início de seu pontificado, sublinha um aspecto fundamental destacando que é urgente levar Deus à humanidade de hoje. A Igreja deve concentrar-se toda nisto: dar Deus, testemunhar Deus.

A grande prioridade
Diante disso, precisamos considerar que, se a essência da vida da Igreja é ser comunhão, se a sua característica missão é aquela de fazer se alastrar no mundo relacionamentos de unidade que encontram na Santíssima Trindade seu insuperável modelo e seu espaço vital, nós não podemos relegar essa tarefa, concentrando os nossos esforços em outras realizações mesmo que importantes na Igreja.
Nossa plena resposta à iniciativa de Deus e a plena realização da Igreja consiste em dar Deus ao mundo, dar Jesus que toma corpo em nós e entre nós, Jesus em meio às pessoas (cf. Mt 18, 20) como fonte de vida e de novos relacionamentos. Esta se manifesta sempre mais para a Igreja de hoje como a prioridade das prioridades.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

PdC Outubro 2011











Editorial


Antonio Capelesso



Como sabemos, o Papa Bento XVI convocou para outubro de 2012 a XIII Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos para tratar da “nova evangelização”. Essa Assembléia sinodal terá por objetivo analisar a situação atual das Igrejas Particulares, para traçar novas formas e expressões da Boa Notícia que deve ser transmitida ao homem contemporâneo, com renovado entusiasmo. A recente criação do Conselho Pontifício para a promoção da “nova evangelização”, responde igualmente a esta necessidade.


Secularização


Vivemos numa época de profunda secularização, em que se perdeu a capacidade de ouvir e compreender as palavras do Evangelho como uma mensagem viva e revigorante. A secularização apresenta-se, hoje, através da imagem positiva da libertação, da possibilidade de imaginar a vida do mundo e da humanidade sem fazer referência à transcendência. Essa levou a desenvolver uma mentalidade na qual Deus foi posto de parte da existência e da consciência humana, total ou parcialmente.

Segundo o Papa, o risco de perder os elementos fundamentais da gramática da fé é uma realidade, com a consequência de cair na atrofia espiritual e num vazio do coração, ou, pelo contrário, em sucedâneos de pertença religiosa e de vago espiritualismo. Nós sabemos que não pode evangelizar, quem antes não foi evangelizado, quem não foi, pessoalmente, objeto de evangelização.


Encontro com Cristo


O Papa Bento XVI nos recorda que, “no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. Por isso, é preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu ao Pentecostes. Devemos reavivar em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: «Ai de mim se não evangelizar!» (1 Cor. 9, 16).


Nova evangelização


A nova evangelização supõe refazer o tecido cristão da sociedade humana, reconstituindo a vida das comunidades cristãs; ou seja, ajudar a Igreja a continuar a estar presente nas casas dos seus filhos e das suas filhas, para animar as suas vidas e encaminhá-las para o Reino que está para vir.
Isso supõe o renascimento espiritual da vida de fé das Igrejas locais e o início de percursos de discernimento das mudanças que afetam a vida cristã nos diferentes contextos culturais e sociais. Supõe releitura da memória da fé, assunção de novas responsabilidades e novas energias, em vista de uma proclamação alegre e contagiante do Evangelho de Jesus Cristo.

Nova evangelização significa ainda partilhar com o mundo os seus anseios de salvação, e apresentar as razões da nossa fé, comunicando o Logos da esperança (cf. 1 Pd. 3, 15). Os seres humanos precisam da esperança para viver o presente. O conteúdo desta esperança é aquele Deus de rosto humano que nos amou até ao fim. De 17 a 20 de outubro acolheremos, na Mariápolis Ginetta, vários diáconos e presbíteros que desejam, à luz da espiritualidade de comunhão, aprofundar a realidade da nova evangelização. Confiantes na luz de Deus, fruto da presença de Jesus na comunidade reunida em seu nome, estamos confiantes, pedindo as graças de Deus.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

PdC - Setembro 2011

Editorial
Antonio Capelesso

Em resposta a um desejo expresso pelo Papa Paulo VI, em 1966, Chiara Lubich deu início ao Movimento Paroquial convidando as pessoas do Movimento dos focolares que atuam nas paróquias a animar esta “célula da Igreja” com o espírito da unidade. Um programa que mais tarde se revelou em profunda sintonia com a Novo millennio ineunte, de João Paulo II, em que ele nos convida a “fazer da Igreja, portanto concretamente da paróquia, a “’casa e escola de comunhão’” (NMI, 43).

A luz sobre o candeeiro
O Evangelho nos orienta muito claramente de que a lâmpada deve ser colocada sobre o candeeiro, a fim de que ilumine a todos os que estão na casa e não debaixo da mesa, ou da cama.
A experiência nos mostra que as pessoas que tiveram a possibilidade de se encontrar com a luz de um novo carisma que, de tempos em tempos, o Espírito concede a algumas pessoas para o bem de toda a Igreja, percebem que uma nova luz ilumina suas mentes e impele seus corações a um novo ardor evangélico a serviço dos irmãos.
Esta luz colocada sobre o candeeiro ilumina a vida dos irmãos e da comunidade. Esta é a experiência de muitos leigos e sacerdotes que se encontraram com o ideal da unidade. Esta luz pode ser levada para dentro de nossas comunidades paroquiais se dois ou mais estiverem reunidos em nome de Jesus. Este é um caminho privilegiado para Deus operar grandes maravilhas neste ambiente.

A fonte desta luz
Uma das palavras da Escritura que fulgurou Chiara e suas primeiras companheiras e que se traduziu logo numa forte experiência de comunhão foi a promessa de Jesus de garantir a sua presença onde duas ou mais pessoas estão reunidas em seu nome. É a presença de Jesus na comunidade cristã que vive o seu mandamento novo (cf. Mt 18, 20). Os discípulos de Emaús, refletindo sobre a convivência com o Ressuscitado ao longo do caminho que os levava para casa, perceberam nova luz para entender as Escrituras e novo ardor no coração. Assim as pessoas que fazem a experiência dessa presença espiritual de Jesus na comunidade sentem que não podem manter os seus frutos somente para si, mas que esses devem ser transbordados na vida dos demais irmãos, nos vários âmbitos da Igreja e da sociedade.

A Palavra de Vida
Em muitas comunidades paroquiais essa nova luz renovadora começou com o acolhimento e a prática da Palavra de Deus. Desde o início do Movimento dos focolares, Chiara e suas companheiras tendo que correr para os refúgios devido aos bombardeios que ocorriam por ocasião da segunda guerra mundial, levavam para lá apenas uma lamparina e um pequeno evangelho. A graça desse novo carisma fez com que elas entendessem a Escritura de modo totalmente novo. Foi assim que surgiu a prática de escolher e praticar uma frase completa da Escritura durante um mês e partilhar as experiências vividas, denominando-a Palavra de Vida. Desta prática, surgiram os encontros da Palavra de Vida onde costuma-se acolher, meditar e, concretamente colocar em prática a Palavra de Deus, partilhando depois as experiências feitas. Quase sem perceber as relações se transformam: tornam-se mais verdadeiras, sinceras, adquirem profundidade. A Palavra de Deus que ilumina todo homem que vem a esse mundo, desse modo vivida e partilhada, tem levado muita luz e renovação espiritual para as comunidades paroquiais.
Nesta edição de setembro, apresentamos vários textos que podem ser uma excelente oportunidade para uma verdadeira renovação espiritual que deve transbordar de nossos corações para dentro de nossas comunidades paroquiais, graças à realização da promessa de Jesus de estar presente onde seus discípulos estão reunidos em seu nome.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

PdC Junho de 2011





No dia 29 de maio de 1991 Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos focolares lançava, na atual Mariápolis Ginetta, nas proximidades de São Paulo, o Projeto de Economia de Comunhão, na liberdade (EdC). As raízes deste Projeto vem de longe. Chiara é de Trento, cidade da cooperação social. Seu pai era socialista, a mãe católica e seu irmão, comunista. Desde criança respirou a solidariedade e a atenção aos esquecidos e marginalizados. No contexto da segunda guerra mundial descobriu o imenso amor de Deus para com ela e para com todos; assim foi natural para ela acolher o convite do Evangelho para responder ao chamado de Deus, fazendo a Sua vontade em relação aos próximos com os quais Jesus se havia identificado.


O amor aos irmãos levou Chiara e suas primeiras companheiras ao encontro dos pobres e doentes, enfim dos mais necessitados de ajuda. A vivência do Evangelho na sua radicalidade deu início e desenvolvimento ao Movimento dos focolares.


As Mariápolis permanentes


No ano de 1961, na Suíça, contemplando a cidade beneditina de Einsiedeln, Chiara sentiu que também seu movimento deveria ter lugares nos quais o carisma teria de ser testemunhado diariamente; verdadeiras pequenas cidadelas, com igreja, escola, mas também casas de famílias e fábricas com chaminés. Quando em 1989, com a queda do muro de Berlin, foi dissolvida a lógica de Blocos, o mundo estava eufórico.


No ano seguinte, Chiara visitando New York, percebendo como o consumismo havia “incorporado” séculos de revoluções e conflitos, ofereceu-se com seus companheiros a pagar com as próprias dores e até com a vida, as “prestações” para que pudessem cair também os muros que ainda impedem a glória de Deus no mundo ocidental.


O lancamento da EdC no Brasil


Ao vir ao Brasil, em 1991, Chiara tinha lido a Centesimus Annus, na qual o Papa preconizava uma economia social capaz de orientar a sociedade de mercado ao bem comum. Mas Chiara chegou ao Brasil, sobretudo com a certeza de poder contar com uma oração potente: assim, frente aos intoleráveis desequilíbrios sociais representados por arranha-céus e favelas de São Paulo, sentiu-se impelida a lançar entre nós a Economia de Comunhão na liberdade que, gerada por homens hovos, distribui os lucros em três partes: uma para manter a empresa, outra para formar homens novos e a terceira destinada aos pobres.


Foi por isso que, o convite de se juntarem para criar novas empresas colocando a pessoa no centro e o capital como função de suporte, não ficou no papel.



Vinte anos de EdC


De 25 a 28 de maio, por ocasião do 20 aniversário do lançamento do Projeto da EdC, realizou-se na Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista - SP, uma Assembléia da EdC que contou com a participação de seicentas e cinquenta pessoas provenientes de mais de trinta países diferentes. No dia 29/05 uma Jornada realizada no Memorial da América Latina, em São Paulo marcou o dia exato do lançamento deste Projeto inovador.



Neste momento de celebração muitos foram os estudiosos que apresentaram vários temas relativos à EdC, bem com muitos epresários que relataram suas experiências. A socióloga brasileira, Vera Araújo, ao apresentar seu contributo nessa Assembléia, destacou a necessidade de uma visão antropológica realmente digna da pessoa humana como base para uma economia que coloca a pessoa como centro, no lugar do capital.


Entre tantas experiências que estão dando nova dignidade ao trabalhador desejo destacar a “Dalla Strada”, que emprega adolescentes literalmente provindos da rua, bem como a matéria prima para a confecção de bolsas com lonas de caminhão que já não mais servem para seu objetivo primário.



Padre Antonio Capelesso - Editorial PdC Junho de 2011.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

PdC - Maio 2011

Editorial

Antonio Capelesso

Todos nós podemos encontrar dificuldades ao interpretar algumas passagens da Sagrada Escritura. Os primeiros 11 capítulos do livro do Gênesis são um destes dextos especiais, por se tratar de um gênero literário muito particular. Nestes dias li uma explicação a respeito da proibição dada a Adão e Eva de comerem dos frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn 2,17). Segundo o autor desse texto, trata-se de um modo de dizer que o homem e a mulher sendo criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, são limitadas, de modo que não podem por si mesmas estabelecer os próprios critérios morais, mas acolher os que lhes são dados por Deus.
Deus, ao chamar à vida disse seu sim a cada homem e mulher. A este deve corresponder o sim humano, para que a lei do amor impregne positivamente as relações com Deus e com os irmãos. Mas a humanidade, desde o seu início, não correspondeu a esse sim de modo positivo. O pecado consiste exatamente em tentar se subtrair à lei do amor.
O sim do homem a Deus
Em Abraão o diálogo de Deus com a humanidade encontra plena adesão de modo que nele todos os povos são abençoados. Maria é a cheia de graça porque nela Deus encontrou plena adesão à sua vontade (cf. Lc 1,26). Após o diálogo com a samaritana Jesus afirma aos seus discípulos que lhe trazem comida, que o seu alimento é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4,34). No horto das oliveiras, durante a sua agonia, Jesus chegou a pedir ao Pai que afastasse dele aquele cálice de sofrimento que o esperava, mas conclui abandonando-se plenamente à vontade de Deus (cf. Lc 14,36). Jesus, antes de entregar o seu espírito, repete o mesmo sim confiante, mesmo depois de sentir-se abandonado por Deus (cf. Lc 23,46).
Ao alcance de todos
Chiara Lubich, fundadora do movimento dos Focolares, logo no início de seu novo caminho espiritual, entendeu que uma coisa são os estados de perfeição e outra coisa o chamado à perfeição que é para todos os cristãos.
No passado, as pessoas que se sentiam chamadas a um caminho de santidade normalmente afastavam-se do mundo e recolhiam-se em mosteiros e conventos para viver seu caminho de perfeição. A partir do Concílio Vaticano II, a Igreja vive um novo tempo em que se tem manifestado mais claramente o chamado de todos os fiéis à santidade. O irmão não é mais visto como um impecilho para se chegar a Deus, mas, justamente, como caminho para Ele. Deste modo, repsondendo positivamente ao amor de Deus, através do cumprimento fiel de sua vontade, toda pessoa pode se santificar, não importa o ambiente em que ela vive. Desde que essa pessoa, no contexto em que vive fizer a vontade de Deus que consiste principalmente no amor ao irmão, ali ela encontra o seu caminho de santidade.
Neste ano estamos aprofundando o segundo ponto da espiritualidade da unidade, que é a prática da vontade de Deus. Deste modo, com esse número de Perspectivas de Comunhão, damos continuidade a esse tema apresentando um breve escrito de padre Silvano Cola, bem como o testemunho sobre a vida de Dom Klaus Hemmerle, um bispo segundo a vontade de Deus, além da experiência da aceitação da vontade de Deus na doença e um importante tema do teólogo italiano Piero Coda sobre a Eleição ou Graça.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

PdC - Abril de 2011



Neste mês celebramos a Páscoa de Cristo que é o supremo e insuperável ato do poder de Deus.Como nos diz o Papa Bento XVI, trata-se de uma realidade tão extraordinária, que se tornainenarrável naquelas suas dimensões que se furtam à nossa capacidade humana de conhecimentoe de averiguação, não deixando também de ser um fato “histórico”, real, testemunhado e documentado.Ao entregar sua vida na plena e confiante fidelidade ao Pai, mais do que em outro momento, Jesus nos fezentender que o verdadeiro amor leva à mais radical renúncia de si para dizer sim a Deus, no pleno cumprimentode sua vontade.


“Seja feita”


Para mergulharmos o mais profundamente possível no segundo ponto da espiritualidade da unidade,aprofundando neste ano, publicamos o tema de Chiara Lubich sobre “a Vontade de Deus na Sagrada Escritura”apresentado em Mollens, na Suíça, no dia 12 de setembro de 1980.


As “Fazendas” e a “Família da Esperança”, depois de receberem o reconhecimento oficial por parte daIgreja, ocorrido no ano passado, continuam a dar as razões de nossa esperança, revelando uma verdadeira “ressurreição”na vida de tantas pessoas. Para isso propicia-se o acolhimento à Palavra de Deus, o amor a Jesus em cadairmão e a recepção diária da Eucaristia. Deste modo, tantas pessoas descobrem sua verdadeira dignidade de filhose filhas de Deus, libertam-se de tantas dependências e vivem a vida em plenitude. A experiência de Alessandro,que apresentamos abaixo, uma ao lado de tantas outras que poderiam ser apresentadas, comprova a autenticidadedo carisma que Deus doou à Família da Esperança.


Escola gens Ianua Coeli


A casetta Gens Ianua Coeli também vive um momento de verdadeira ressurreição, com a presença, nesteano, de 6 gens, provindos de várias partes do Brasil para esta escola anual. Com o objetivo de partilhar a experiênciainiciada apresentamos, no final dessa edição, uma primeira impressão de cada um dos gens, bem como aresposta encorajadora de padre Alexander responsável do Centro Gens, de Roma.Como sabemos, Jesus é nosso Ideal a ser seguido. E seguir Jesus quer dizer cumprir a vontade do Paide um modo perfeito, como Ele a cumpriu. Tendo derramado em nós o amor, por meio do Espírito Santo (cf.Rm 5, 5), Ele nos introduz na sua própria relação com o Pai, como diz no seu testamento, no relacionamento daTrindade, e deseja que esta comunhão seja vivida nas relações interpessoais. É a realização máxima do homem,da humanidade: a sua “divinização”.




Padre Antonio Capelesso. Editorial Perspectivas de Comunhão 2011.

segunda-feira, 21 de março de 2011

PdC Março de 2011

Como sabemos, a Igreja está passando por um momento particular de sua história bi-milenar. E
isso não apenas porque a sociedade colocou em relevo a chaga da pedofilia em alguns membros do clero, mas porque vivemos um momento de profundas transformações, que atingem toda a sociedade. Alguns chegam a falar de uma “noite escura coletiva” pela qual estamos passando que nos impele a buscar novas luzes para o nosso caminho.

A experiência do exílio

A experiência do povo de Israel, relatada no Antigo Testamento, também apresenta momentos difíceiscomo aquele vivido no exílio, na Babilônia, em que, por alguns momentos, algumas pessoas se questionaram se não foram abandonadas por Deus. Nestes momentos de escuridão a presença dos profetas foi decisiva para alimentar a esperança do povo com a finalidade de perseverar no caminho da aliança e esperar sempre o auxílio que vem de Deus. Os momentos de crise, seja na vida pessoal, como comunitária, sempre precisam ser vistos como um momento de graça. De um lado eles nos questionam e nos levam a abandonar convicções e atitudes que não mais respondem ao momento em que vivemos, mas também nos abrem novos caminhos a percorrer.

A luz do Vaticano II

Também a nós que peregrinamos o momento atual, Deus tem enviado seus mensageiros. Como não ver no Concílio Vaticano II um momento particular de “profecia coletiva”, que nos aponta o caminho verdadeiro para hoje? Também como não faltaram no passado os santos, como verdadeiros faróis a iluminar o caminho a ser percorrido, hoje não nos faltam novos Movimentos eclesiais que dão consistência e concretização às orientações do Vaticano II.

Sempre fiquei impressionado com o final da parábola dos talentos, em que se pede ao que recebeu apenas um talento e que não o fez frutificar, que o entregue ao que já tem dez (cf. Mt 25,14-30). Em sintonia com esta passagem bíblica, nós cristãos que nos sentimos agraciados por “talentos” pessoais ou comunitários, somos particularmente convidados a colocar a luz sobre o candeeiro a fim de que ilumine ao maior número de pessoas.

Revelar a comunhão

O Concílio Vaticano II, nas suas linhas essenciais, apresenta a Igreja como comunhão que tem sua raiz e seu modelo na vida da Santíssima Trindade. Não foi esse modelo que inspirou a formação dos padres mais idosos, como afirmou o teólogo Karl Rhaner, antevendo que a espiritualidade do futuro, em sintonia com o novo modelo de Igreja, seria o da comunhão.

Nesta linha, todos os que nos sentimos agraciados por uma particular experiência de comunhão não podemos enterrar nossos “talentos”, mas fazê-los frutificar a serviço de toda a comunidade cristã e de toda a humanidade.



Padre Antonio Capelesso, Editorial da Revista Perspectivas de Comunhão Março de 2011, Ano XX, nr. 02.

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

PdC de Janeiro e Fevereiro de 2011

Partilhamos com alegria a experiência de 120 padres e seminaristas que, de 10 a 14 de janeiro último, na Mariápolis Ginetta, em São Paulo, participaram da Escola nacional. A motivação para esse encontro foi o fato de encontrarem na espiritualidade da unidade uma luz particular para sua vida e ministério. Além de alguns conteúdos aprofundados, relacionados ao tema da vontade de Deus, no final deste número de PdC, apresentamos algumas impressões colhidas por ocasião da conclusão deste encontro.

O sol e seus raios
Um grande painel preparado para essa ocasião, em forma de mosaico, apresentava o sol com os seus raios, imagem escolhida por Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, para falar da vontade de Deus e seu plano de amor para cada pessoa e toda a humanidade. A frase extraída do Pai nosso: “Seja feita...”, resumia muito bem a temática dessa Escola. A vontade de Deus é a grande possibilidade que temos de responder com amor a todo amor recebido e nos realizar plenamente segundo o desígnio de nosso criador. Para isso é preciso ver em todos os acontecimentos a manifestação direta da vontade de Deus ou ao menos uma sua permissão, sempre para o nosso bem. No passado cheguei a considerar muito otimista a visão de mundo apresentada por Chiara Lubich, enquanto eu via a realidade com lentes mais escuras. Aos poucos fui me convencendo que sua visão era mais evangélica, convidando-nos a ver o mundo como Deus o vê.

O pai misericordioso
A figura do pai misericordioso apresentada por Jesus, seguramente nos impressiona a todos. Em primeirolugar por respeitar a vontade do filho mais novo e repartir com ele sua herança, permitindo que se distancie da casa paterna para uma aventura desvairada. Quem poderia imaginar que somente após esse percurso de distanciamento e de respeito à liberdade do filho o pai o recuperaria e o teria realmente próximo de seu coração?O filho pródigo chega verdadeiramente a conhecer seu pai e seu amor desmedido quando, depois de ter esbanjado seus bens, livremente retorna à casa e é acolhido como filho, não importando seus desmandos. Nós
também, aos poucos, vamos aprendendo que realmente nos aproximamos da porta da casa do Pai somente no despojamento e humildade e não na auto-suficiência do filho mais velho.
Apresentando-nos com essa atitude descobrimos que, da parte de Deus, essa porta sempre aberta, é pura gratuidade e verdadeiro amor.

A vontade de Deus é amor
Neste número de Perspectivas de Comunhão continuamos a aprofundar o 2º tema da Espiritualidade da unidade, que focaliza o chamado a realizar plenamente a vontade de Deus, nossa grande chance de nos tornarmos verdadeiramente pessoas, através de nossa resposta positiva ao amor de Deus que descobrimos pessoalmente.

A criança evangélica
Jesus apresenta a seus discípulos a figura da criança como modelo de confiança plena no amor de Deus. A criança, porque acredita no amor de seus pais, aceita suas orientações com grande facilidade e se sente segura de ser constantemente amparada por eles.
Na medida em que passarmos a ver toda a realidade com o olhar de Deus e nos abandonarmos ao seu amor, realizar a vontade de Deus será o ato mais natural e inteligente que podemos fazer. Isso não será um peso para nós, mas um dever de gratidão a nosso Pai que nos criou e nos guia constantemente para que tudo concorra para o nosso bem.

Padre Antonio Capelesso